[8:11 PM]
OUTUBRO: 12 filmes
Os Eternos Desconhecidos (Mario Monicelli /1958) Uma comédia deliciosa. A história não é nada original (um assalto a banco), mas o tratamento dado às situações fazem toda a diferença. Diálogos e cenas engraçadíssimas, mostra aqui toda a qualidade que os italianos, ainda saindo de uma guerra e em estado de reconstrução, tinham para tornar cômico o que era para ser trágico.
Um Misterioso Assassinato em Manhattan (Woody Allen /1993) Primeiro filme após o rompimento de Allen e Mia Farrow, reencontrando sua musa anterior, Diane Keaton, e provando, mais uma vez, que a parceria dos dois é sempre sinal de bons filmes. Aqui ele usa muitos elementos hitchcockianos, fazendo um suspense cômico da melhor qualidade, com um roteiro enxuto e mostrando vitalidade pura. Parece que o casamento tirou um peso das costas do diretor e o mundo oriental lhe deixou bem mais à vontade, relaxado mesmo. Ótima a intertextualidade com A Dama de Shangai, de Orson Welles, numa cena-homenagem que reproduz a sequência mais famosa do filme. Terra de Ninguém (Terrence Malick /1973) Caché (Michael Haneke /2005) Ainda sob impacto, estou quase certo de que Haneke é um dos melhores diretores da atualidade. Sua capacidade de rendição do espectador é sigularíssima, coisa pra poucos. Estão lá todas suas características, desde a direção fria e os planos longos e abertos, com a câmera estática e o clima tenso da narrativa. Em Caché, o que mais me chamou a atenção (e me agradou, de fato) foi a ausência de respostas. Não há uma preocupação em esclarecer os pontos em questão, e a atmosfera nos dá a sensação de que estamos ali, sentados num canto da sala, observando todos aqueles fatos de perto, o que intensifica o desespero de quem os vê. É um filme denso, com um discurso contundente, que nos faz refletir e ainda conta com a presença de uma navalha, uma navalha que parece cortar muito mais do que aparenta. Celebridades (Woody Allen /1998) De início pensei que veria adaptado para o cinema um tablóide inglês neurótico e com tiques niilistas, mas este filme é, na verdade, uma história de ilusões amorosas passada em meio ao turbulento mundo dos famosos. Allen errou feio ao adotar o preto-e-branco, não é o tom ideal para caracterizar o tema (ou sub), que naturalmente exige brilho e cores. Mas dizem sempre que um filme menor do velho paranóico é sempre melhor que diversas outras opções, não tenho porquê discordar. O Novo Mundo (Terrence Malick /2005) Tão bom quanto um grito de campeão ao fim de um campeonato ou um brasileiro no pódio da F-1 é assistir a um filme dotado de méritos suficientes para ocupar o posto mais alto da preferência anual. O Novo Mundo é um filmaço, necessito dizer sem rodeios. É certo que o cinema de Malick (que possui uma proximidade muito grande com os filmes de Antonioni - guardadas as devidas proporções - ora por adotar temáticas existencialistas, ora pela composição visual requintada de seus trabalhos) não é acessível para muitos, devido à narrativa lenta, sintetizada por imagens magníficas, que procura relatar no silêncio de suas personagens as aflições do homem diante o mundo ao redor. As perturbações da consciência humana perante acontecimentos grandiosos sempre estão em voga nos filmes do diretor (como em Além da Linha Vermelha, de Malick, ainda superior), que trabalha com o olhar (seja o mundo, seja o próximo) de maneira incrivelmente bela. Veríssimo num de seus contos diz que há duas coisas para se fazer no escuro. Uma delas é ver um filme, outra, ver um grande filme. O Novo Mundo se encaixa nesta última, com louvor.
Dália Negra (Brian De Palma /2006) Entrei no cinema disposto a colocá-lo no topo da lista de melhores do ano, e estava consciente da decisão até os 20 minutos finais (e, diga-se de passagem, sorrindo de ponta a ponta pelo belo trabalho cinematográfico que é este filme, o que já era de se esperar em se tratando de De Palma) onde a história passa por uma turbulência e um amontoado de informações é despejado na tela, sem um cuidado maior em explicitar certas situações que ficam pairando no ar. Tirando este deslize, o que vemos é um ótimo filme, reconstituindo fielmente os fins da década de 40 (uma L.A. filmada num tom quase sépia) com seqüências e passagens dignas de citações, como os tiroteios na escada e na rua e a apresentação da personagem de Scarlett Johansson (um pitéu de piteira e loiríssima). A narração em voz over também me agradou bastante, assim como a trilha sonora jazzistica e o elenco. Infelizmente não ocupará o posto antes desejado por mim, mas defendê-lo-ei nas conversas de bar, certamente.
Árido Movie (Lírio Ferreira /2005) Uma boa diversão, principalmente graças ao trio comandado por Selton Mello regido a muita maconha e diálogos engraçados. O roteiro é simpático, mesmo que em parte precise de alguma costura (a personagem de Giulia Gam não se justificou até hoje) e uma dinâmica mais distribuída. Em se tratando de sertão, Cinema, Aspirinas e Urubus se sai infinitamente melhor, mesmo com contextos e questões distintas. Quarteto Fantástico (Tim Story /2005) É aquele esquema Hollywood até o talo, sem rodeios; infelizmente os filmes baseados em quadrinhos perderam a originalidade que outrora possuíram, e hoje em dia abusam da receita do sucesso fácil, (os mais visados, como Homem-Aranha, ainda mantém o bom nível do texto) sem obstáculos, já que a marca Marvel ainda leva multidões aos cinemas. Só que a falta de espontaneidade que o filme exala desde o início cansa, e o argumento fica mais previsível do que novela da Globo, onde só o elenco muda. Nem mesmo Jessica Alba salva como colírio, em Sin City - Cidade do Pecado está infinitamente mais deliciosa.
Ghost World - Aprendendo a Viver (Terry Zwigoff /2001) E lá vou eu mais uma vez desafiar meus instintos relapsos e gastar a nota da arara no famoso bacião das Lojas Americanas com um filme aparentemente bom, com aura de cult e Scarlett Johansson na capa. Infelizmente não era Encontros e Desencontros (até porque quem ilustra a embalagem deste é Bill Murray) apesar de possuir fatores em comum com Ghost World, exceto o primordial: qualidade. O problema essencial do filme em questão é a maneira insolente de se desenvolver, sem nenhum cuidado em desbravar a natureza e o universo incrivelmente rico de suas personagens, e para isso não há indulgência. O que vemos é um rabisco de personagens estranhos que vivem num submundo e têm um quê misantropo, mas isso vemos todos os dias, basta uma olhada no espelho, certo? Faltou pungência, faltou um cuidado maior com o roteiro que não permitisse a obviedade que tonifica o filme, com todos os estereótipos a que tem direito. Meu pesar maior não é nem o filme não ser bom, e sim a Americanas não aceitar devolução. Uma pena.
O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro (Glauber Rocha /1969)
Repulsa ao Sexo (Roman Polanski /1965) Já começa com um close no inquieto olho de Catherine Deneuve (uma belezoca, novinha, novinha e fazendo as honras da casa com maestria) e inclina-se a estudar uma mente reprimida, açoitada a todo instante por valores e situações que só agravam sua situação instável. É um grande suspense psicológico, denso e sombrio, como Polanski só voltaria a repetir três anos após, com o igualmente superlativo O Bebê de Rosemary, e nunca mais.
|