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JANEIRO: 10 filmes
Babel (Alejandro González Iñarritú /2005) Penso que qualquer pessoa que tenha um mínimo senso crítico conseguirá a façanha de perceber que Babel não é um bom filme. Um Crash redux, com abalos emocionais calculados e mais nada. Duas horas e alguns minutos onde você é redimido de seus pecados observando o sofrimento de todos os personagens da história e, de acordo com as intenções de seus realizadores, trabalhando numa auto-análise de seus atos e atitudes (não funcionou comigo, baby, tente outra vez). Tenho grande simpatia pela maneira com que o diretor mexicano realiza seus filmes, acho Amores Brutos e 21 Gramas um cinema de qualidade (embora não sejam filmes que se possam ver mais de uma vez) e estava com boas expectativas para com Babel. Acontece que é tudo convencional demais, um mais-do-mesmo bobo, inócuo, onde o importante é fazer com o que o espectador chore, saia do cinema arrasado psicologicamente e pensando “oh, mundo tão desigual”. De desgraças estamos fartos. O que resta é o que aprendemos com tais desacertos da vida, e isso, de fato, não está no discurso burocrático e vazio de Babel.
Pequena Miss Sunshine (Jonathan Dayton e Valerie Ferris /2005) Um dos aspectos mais interessantes do atual cinema americano é justamente a desmistificação do famigerado ideal do american way of life. Beleza Americana veio para despir todos os conceitos antes relativos à sociedade de primeiro mundo, e a família, que antes era tida como perfeita e idealizada feito comercial de margarina passou a ter problemas e dificuldades existenciais. Vimos então a racionalidade entrar em jogo e os problemas das relações sócio-humanas renderam bons textos. Pequena Miss Sunshine é alegre, divertido, ácido e ao mesmo tempo lírico, um filme onde há espaço para todos os tipos e talvez por isso tenha tido uma aceitação tão boa. Não fosse Os Excêntricos Tenenbaums, seria um retrato fiel e definitivo da família moderna.
Sonata de Outono (Ingmar Bergman /1978) O maior psicólogo dos cineastas, o sueco verte para as fronteiras de Freud (mais uma vez) ao promover uma turbulenta análise da relação entre mãe e filha após sete anos de separação. As cores fortes e a direção de arte caprichada estabelecem um paralelo com as personalidades em jogo das duas mulheres, expostas quase que exclusivamente durante toda a projeção e mostrando em que consiste a arte de atuar: num certo momento, quando Liv Ullman despeja-se emocionalmente sobre Ingrid Bergman, senti o peso das palavras (e de toda a amargura externada por elas) e a hecatombe que podem causar quando usadas (in)devidamente.
Atirem no Pianista (François Truffaut /1960) Uma das qualidades mais louváveis dos filmes do francês é justamente o que me faz relevar positivamente seu cinema: a versatilidade informal. Truffaut navega nos arredores de um texto aparentemente humorístico e injeta nele uma vitalidade que dá cor (no abstrato, claro), drama, suspense..., enfim, uma personalidade completa e sensível a seu filme. É um cineasta que sempre me pareceu extremamente simples enquanto filmava, tamanha a espontaneidade congênita de seus filmes. Atirem no Pianista, embora não seja um momento memorável de sua filmografia, é daqueles que acalmam os nervos e refrescam os ânimos, quase um gole de Coca no deserto.
Viver a Vida (Jean-Luc Godard /1962) Lá pelos 30 minutos de filme, quando você já está imerso no universo autoral e hermético de Godard, Anna Karina, por não saber mais onde focar, lança os olhos para a câmera num movimento bruto, arisco, quase como um bote de uma cobra, e fica encarando o espectador por segundos que parecem intermináveis. Olhar de frente aquela figura de ar gélido, questionador, indiferente aos demais mortais e portadora de uma beleza enigmática causa uma sensação de impotência e angústia, o que só me faz admirá-la e a seu mentor com maior intensidade. Nota-se, a partir deste jogo estético, o interessante diálogo que o cinema de Godard se propõe a realizar com quem o assiste. A discussão sobre os padrões sociais e o repensamento de todo um comportamento feminino agora desmistificado servem para o diretor francês compor um belo filme, com sua singular e poética assinatura.
Fahrenheit 451 (François Truffaut /1966) Baseado no romance do norte-americano Ray Bradbury (cujo livro estou à procura), o filme pode não ter agradado a muitas pessoas (inclusive o próprio Truffaut não ficou satisfeito com o resultado final), mas é de um lirismo que se sobressai em meio ao teor de ficção-científica adotado pela história, coisa que só um talento do porte do francês consegue engendrar de forma brilhante. Uma crítica contundente ao totalitarismo, à manipulação ideológica que se via evidente nos idos anos 60 e à perda de identidade de uma sociedade que se via (e hoje se vê) cada vez mais esfacelada, descaracterizada e privada do direito à leitura. O final, onde as pessoas se transformam em livros, é daquela poesia que te faz querer ser um personagem de um filme de Truffaut e, neste caso, também virar uma obra. Quem você seria?
Carmen de Godard (Jean-Luc Godard /1983) Metáforas, lindas metáforas.
Vôo United 93 (Paul Greengrass /2005)
Diamante de Sangue (Edward Zwick /2006) Morrer sentado numa montanha em plena savana africana, com uma vista linda e bucólica de todo o ambiente natural que o cerca e ainda ter Jennifer Connelly ao telefone falando que adorou te conhecer não é nada mal.
Heróis Imaginários (Dan Harris /2004)
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