qualquer coisa
num verso intitulado mal secreto
 

1.3.07


[10:07 PM]

Depois daquele filme com o John Cusack baseado no livro pop do escritor inglês que vocês conhecem, a elaboração de listinhas sobre os mais variados assuntos – desde os melhores livros até os piores rótulos de Coca-Cola – passou a ser item quase que obrigatório em blogs que falam diretamente aos que buscam qualquer coisa. Notei então que reservava parte do meu precioso tempo, da minha paciência e da minha quase caridosa boa vontade (um dia eu chego lá, Gandhi) para compor listas onde figuravam apenas os filmes mais importantes de cada ano. E como navegar é preciso, enchi meu bote no posto da esquina e agora remarei em outras águas, aquelas que nos transportam de maneira quase espontânea para 1972, um ano que, ao contrário do que você pensa, também não terminou.


# CINCO DISCOS QUE VOCÊ PRECISA OUVIR e que, meu irmão, vão fundir a sua cuca


Transa
Caetano Veloso

É o primeiro disco de Caetano após a volta do exílio londrino ao qual foi submetido junto com Gil, em 69. Em Londres, capital mundial da música de qualidade (e de tudo mais o que você pode imaginar no quesito loucura) no início dos 70’s, Caetano chamou o arranjador Jards Macalé para montar seu segundo disco em inglês, onde há uma fusão de violão, reggae, Beatles, poesia barroca, Gal Costa e rock’n’roll. Figurando no topo da obra do baiano em várias listas (inclusive a minha), Transa é daqueles discos que possuem a exímia capacidade de transcender do plano musical causando sensações indizíveis e buscando novos delírios. Não é à toa que recebeu esse nome.

Gal Fatal – A Todo Vapor
Gal Costa

Uma ode ao desbunde: hippies por todos os lados, Gal de roupas coloridas e de pés descalços, Lanny Gordin insano na guitarra, muita fumaça no ar e um clima de total improviso, visto a queda do violão de Gal e as referentes desculpas da cantora, tudo ali, ao vivo e registrado nos dois discos. O repertório seguiu a essência tropicalista e conta com composições de Caetano, Waly Salomão e Macalé, Luiz Melodia, Roberto e Erasmo e outras figuras marcantes. O show, um marco da cultura udigrudi setentista, se tornou um dos maiores sucessos da carreira de Gal e é um retrato fiel de uma época em que o barato era ser lóki, bicho.

Acabou Chorare
Novos Baianos

Um caso exemplar de fuga da obviedade. Os filhos da Tropicália embalaram a juventude paz e amor em seu segundo elipê, que traz clássicos como Brasil Pandeiro, A Menina Dança e Preta, Pretinha. Nelson Motta, em seu livro Noites Tropicais, citou o disco como um dos maiores símbolos do pop brasileiro, e ressaltou as divertidíssimas gravações, onde quilos de maconha foram consumidos e a criatividade da família-comunidade foi toda despejada em 10 músicas, todas da melhor qualidade e com um suingue que só sendo brasileiro nessa hora.

Clube da Esquina
Milton Nascimento e Lô Borges

Foi quando aquela trupe intrépida de amigos que adoravam tomar cerveja num bar de esquina tocando violão e escrevendo poesia resolveu gravar um disco. Milton, Lô, Fernando Brant, Beto Guedes, Márcio Borges e mais uma moçada gente finíssima levaram a brisa mineira para além-mar, com suas músicas doces, algo bucólicas e que transmitem uma plena sensação de tranquilidade, alcançada somente graças à conjunção do talento dos firmadores do movimento. E quando houver oportunidade, leve sua mulher para um boteco numa rua tranquila em Ouro Preto, sente na calçada, coloque o disco na vitrola e peça em casamento. É fatal.

Jards Macalé
Jards Macalé

E no garimpo, bem lá do fundo do baú, vem um disco injustamente esquecido e que pouca gente tem conhecimento, o primeiro trabalho solo do até então arranjador Jards Macalé. Um trabalho bastante econômico, com Lanny Gordin no violão e Tutty Moreno na batera, traz parcerias escritas com Waly Salomão (à época ainda assinando Sailormoon) e Torquato Neto, o anjo torto da Tropicália. Em 10 músicas, Macalé desfila suas influências em vários ritmos, do jazz ao blues, passando pelo samba e pelo rock’n’roll, sem nunca deixar de lado a veia brasileira que corre em seu sangue. E se você, cê mesmo, por alguma intervenção divina resolver pedir o desquite da preguiça e ir atrás de algum dos discos listados aqui, vá direto nesse. E desafine o coro dos contentes.


# Enquanto isso, lá fora...

... o mundo ouvia pela primeira vez o disco que imortalizaria o Pink Floyd, sendo até hoje The Dark Side of The Moon a obra mais marcante do grupo.

... Jagger e seus amigos saíam do isolamento e iniciariam a turnê de divulgação de Exile on Main Street, peça fundamental na discografia dos Stones e um dos discos que você realmente precisa ouvir antes de morrer.

# E aquecendo os motores por aqui...

... os Secos & Molhados entravam em estúdio para as gravações de seu primeiro disco, cuja capa é uma das mais célebres da notre musique e o conteúdo não fica nada atrás.

... João Gilberto subia num avião contra sua vontade e ia para os EUA gravar um de seus melhores discos, intitulado apenas João Gilberto (conhecido como White Album), e que conta com um repertório de primeira qualidade, com João ao violão e Sonny Carr batendo vassourinha numa lixeira (isso mesmo, LIXEIRA) na percussão.



 


é isso aí, bicho

 

 


[ eu ]

samuel lobo
24
brasil
 


[ leio ]

caderno do cinema
filmes do chico
mesmas letras
trabalho sujo
chip hazard
superoito
passarim
 
[ visito ]

cinética
ilustrada
cinema em cena
IMDb
 
[ estante ]

last.fm
twitter
rym
mail
 
[ arquivos ]

novembro 2005 maio 2006 agosto 2006 setembro 2006 outubro 2006 novembro 2006 janeiro 2007 fevereiro 2007 março 2007 abril 2007 maio 2007 junho 2007 julho 2007 agosto 2007 setembro 2007 outubro 2007 novembro 2007 dezembro 2007 janeiro 2008 fevereiro 2008 março 2008 abril 2008 maio 2008 junho 2008 julho 2008 agosto 2008 setembro 2008 outubro 2008 novembro 2008 dezembro 2008 janeiro 2009 fevereiro 2009 março 2009 abril 2009 maio 2009 junho 2009 julho 2009 agosto 2009 setembro 2009 outubro 2009 dezembro 2009 janeiro 2010 fevereiro 2010 março 2010 abril 2010 maio 2010 junho 2010 julho 2010 agosto 2010 setembro 2010 novembro 2010 janeiro 2011 fevereiro 2011 março 2011 abril 2011 maio 2011 junho 2011 julho 2011 agosto 2011 setembro 2011 outubro 2011 dezembro 2011 janeiro 2012 junho 2012