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Depois daquele filme com o John Cusack baseado no livro pop do escritor inglês que vocês conhecem, a elaboração de listinhas sobre os mais variados assuntos – desde os melhores livros até os piores rótulos de Coca-Cola – passou a ser item quase que obrigatório em blogs que falam diretamente aos que buscam qualquer coisa. Notei então que reservava parte do meu precioso tempo, da minha paciência e da minha quase caridosa boa vontade (um dia eu chego lá, Gandhi) para compor listas onde figuravam apenas os filmes mais importantes de cada ano. E como navegar é preciso, enchi meu bote no posto da esquina e agora remarei em outras águas, aquelas que nos transportam de maneira quase espontânea para 1972, um ano que, ao contrário do que você pensa, também não terminou.
# CINCO DISCOS QUE VOCÊ PRECISA OUVIR e que, meu irmão, vão fundir a sua cuca
Transa
Caetano Veloso
É o primeiro disco de Caetano após a volta do exílio londrino ao qual foi submetido junto com Gil, em 69. Em Londres, capital mundial da música de qualidade (e de tudo mais o que você pode imaginar no quesito loucura) no início dos 70’s, Caetano chamou o arranjador Jards Macalé para montar seu segundo disco em inglês, onde há uma fusão de violão, reggae, Beatles, poesia barroca, Gal Costa e rock’n’roll. Figurando no topo da obra do baiano em várias listas (inclusive a minha), Transa é daqueles discos que possuem a exímia capacidade de transcender do plano musical causando sensações indizíveis e buscando novos delírios. Não é à toa que recebeu esse nome.

Gal Fatal – A Todo Vapor
Gal Costa
Uma ode ao desbunde: hippies por todos os lados, Gal de roupas coloridas e de pés descalços, Lanny Gordin insano na guitarra, muita fumaça no ar e um clima de total improviso, visto a queda do violão de Gal e as referentes desculpas da cantora, tudo ali, ao vivo e registrado nos dois discos. O repertório seguiu a essência tropicalista e conta com composições de Caetano, Waly Salomão e Macalé, Luiz Melodia, Roberto e Erasmo e outras figuras marcantes. O show, um marco da cultura udigrudi setentista, se tornou um dos maiores sucessos da carreira de Gal e é um retrato fiel de uma época em que o barato era ser lóki, bicho.
Acabou Chorare
Novos Baianos
Um caso exemplar de fuga da obviedade. Os filhos da Tropicália embalaram a juventude paz e amor em seu segundo elipê, que traz clássicos como Brasil Pandeiro, A Menina Dança e Preta, Pretinha. Nelson Motta, em seu livro Noites Tropicais, citou o disco como um dos maiores símbolos do pop brasileiro, e ressaltou as divertidíssimas gravações, onde quilos de maconha foram consumidos e a criatividade da família-comunidade foi toda despejada em 10 músicas, todas da melhor qualidade e com um suingue que só sendo brasileiro nessa hora.
Clube da Esquina
Milton Nascimento e Lô Borges
Foi quando aquela trupe intrépida de amigos que adoravam tomar cerveja num bar de esquina tocando violão e escrevendo poesia resolveu gravar um disco. Milton, Lô, Fernando Brant, Beto Guedes, Márcio Borges e mais uma moçada gente finíssima levaram a brisa mineira para além-mar, com suas músicas doces, algo bucólicas e que transmitem uma plena sensação de tranquilidade, alcançada somente graças à conjunção do talento dos firmadores do movimento. E quando houver oportunidade, leve sua mulher para um boteco numa rua tranquila em Ouro Preto, sente na calçada, coloque o disco na vitrola e peça em casamento. É fatal.
Jards Macalé
Jards Macalé
E no garimpo, bem lá do fundo do baú, vem um disco injustamente esquecido e que pouca gente tem conhecimento, o primeiro trabalho solo do até então arranjador Jards Macalé. Um trabalho bastante econômico, com Lanny Gordin no violão e Tutty Moreno na batera, traz parcerias escritas com Waly Salomão (à época ainda assinando Sailormoon) e Torquato Neto, o anjo torto da Tropicália. Em 10 músicas, Macalé desfila suas influências em vários ritmos, do jazz ao blues, passando pelo samba e pelo rock’n’roll, sem nunca deixar de lado a veia brasileira que corre em seu sangue. E se você, cê mesmo, por alguma intervenção divina resolver pedir o desquite da preguiça e ir atrás de algum dos discos listados aqui, vá direto nesse. E desafine o coro dos contentes.
# Enquanto isso, lá fora...
... o mundo ouvia pela primeira vez o disco que imortalizaria o Pink Floyd, sendo até hoje The Dark Side of The Moon a obra mais marcante do grupo.
... Jagger e seus amigos saíam do isolamento e iniciariam a turnê de divulgação de Exile on Main Street, peça fundamental na discografia dos Stones e um dos discos que você realmente precisa ouvir antes de morrer.
# E aquecendo os motores por aqui...
... os Secos & Molhados entravam em estúdio para as gravações de seu primeiro disco, cuja capa é uma das mais célebres da notre musique e o conteúdo não fica nada atrás.
... João Gilberto subia num avião contra sua vontade e ia para os EUA gravar um de seus melhores discos, intitulado apenas João Gilberto (conhecido como White Album), e que conta com um repertório de primeira qualidade, com João ao violão e Sonny Carr batendo vassourinha numa lixeira (isso mesmo, LIXEIRA) na percussão.