[1:02 PM]
Chegamos na porta do cinema e ela perguntou Se eu queria mesmo ficar dentro do cinema Três horas e quarenta minutos vendo um filme sobre mafiosos. Ela tivera um ou dois namorados que só fodiam Quando não tinham outra coisa para fazer ¿Por que foder hoje de tarde se podiam foder de noite, Por que foder de noite se podiam foder amanhã de manhã, E por que foder no dia seguinte se podiam foder no sábado, E por que foder no sábado se podiam foder na outra semana, No feriado ou no dia do aniversário dele ou dela? Mas ela sabia que comigo - com nós dois, Pois na verdade não era apenas eu que fazia Tudo ficar diferente - era outra coisa. E caminhamos apressados debaixo do sol Pois não queríamos perder tempo, tínhamos depois De voltar para nossas prisões e aguardar O novo encontro, e fomos Para o primeiro lugar mais perto, um apartamento sem Nenhum móvel, e ficamos agarrados lá dentro, A maior parte do tempo eu em cima dela Com os joelhos apoiados no chão, e meus joelhos ficaram lacerados, E o meu pau esfolado, e ela com a carne ardendo, e um Dente meu da frente rachado e um dente dela da frente Rachado, e marcas vermelhas Apareceram ao lado de antigas manchas roxas e nossas Olheiras se tornaram ainda mais escuras, mas não me Queixei nem ela se queixou. Era um pacto de incêndio, Contra esse espaço de rotina cinzenta entre O nascimento e a morte que chamam vida.
Um dia na vida de dois pactários, Rubem Fonseca, 1998
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