[6:49 PM]
Isto é José Agrippino de Paula:
“Eu acendi a luz do quarto e vi na parede a marca do corpo dela deixado pelo suor. Eu olhei para o chão e vi algumas gotas de esperma e uma mancha na mala. Limpei o chão com a toalha e esfreguei a toalha na mala. A mala estava entreaberta e eu pensei que eu poderia ter molhado as roupas. Retirei as roupas, mas não estavam molhadas; somente a calcinha do biquíni que ela havia deixado cair no chão estava respingada de esperma. Eu limpei com a toalha o biquíni e verifiquei se o soutien estava molhado, e, finalmente, a parede. A parede guardava uma marca úmida de suor das costas e das nádegas dela. Eu saí do quarto, apaguei a luz e entrei no banheiro iluminado. Lavei o rosto e joguei a toalha na pia. Eu apontei para o final da praia onde estava situado o rochedo e eu e ela continuamos caminhando. O céu azul servia de fundo para o rochedo que penetrava no mar. Eu e ela subimos no rochedo e descemos a longa pedra que se introduzia inclinada na água do mar. A espuma branca explodiu para o alto batendo no rochedo. Eu mostrei para ela um grupo de pedras escuras e disse que lembrava o excremento de um animal. Eram pedras escuras e verdes que se amontoavam umas sobre as outras. A água verde do mar deslizava sobre as pedras escuras, penetrava nos cantos das pedras e escorria retornando para o mar. Marilyn Monroe pediu o maço de cigarros e eu retirei do calção enquanto ela se estendia no dorso da pedra. Ela estava com um biquíni minúsculo e ela expunha a sua pele branca ao sol. Eu via ao longe as grandes massas de água avançando e batendo na pedra. Eu deitei ao lado de Marilyn Monroe e perguntei se ela queria que eu passasse óleo de bronzear. Ela respondeu com um movimento de cabeça e voltou a recolocar o cigarro na boca. Eu destampei o vidro e despejei um pouco de óleo de bronzear na minha mão. Eu esfregava o óleo na barriga de Marilyn Monroe, nos ombros, no rosto; e depois eu disse para ela virar de costas. Ela virou lentamente de costas e apoiou o rosto nos braços. Eu passei óleo de bronzear nas costas de Marilyn, e depois deitei ao seu lado. A minha cabeça estava inclinada e eu via o rochedo como uma enorme massa de carne imóvel se introduzindo na água do mar. A espuma branca explodia para o alto e salpicava de pequenas gotas o dorso imenso da pedra. A água corria entre as pedras e se distribuía entre os vãos, e escorria fervendo para o mar. A imensa massa líquida verde continuava enviando lentamente a série de pesadas ondas que se aproximavam do rochedo. Eu olhava para as pedras que pareciam ter uma consistência pastosa e pareciam ter sido jogadas do alto. Depois, o rosto de Marilyn Monroe estava muito próximo do meu e a pele branca irradiava a luminosidade do sol. Eu vi muito próximo dos meus olhos o nariz, a boca, os olhos, os pêlos da sobrancelha e os poros. O rosto era recortado pela luz azul e brilhante do céu. Ela movimentou a boca lentamente e eu vi os dentes aparecendo, a língua e depois os lábios se fecharam. Eu sentia a mesma desproporção da natureza, e o rosto de Marilyn Monroe iluminado pela luz azul do céu, e eu via as dimensões gigantescas da boca, do nariz e dos olhos fechados.”
Panamérica, 1967
|