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Paranoid Park cresceu assustadoramente quando passou pela prova de fogo também conhecida com revisão. Quando o assisti pela primeira vez, no último Festival do Rio, saí da sala com a impressão de que Van Sant não sabia o que fazer após a radicalização de proposta que é Last Days, o cara se encontrava perdido, sua carreira estava para sempre fadada a obras menores cujo sumo estaria todo na predecessora trilogia do silêncio. E como eu sempre quis usar essa expressão, aí vai: ledo engano, Samuel. Os três amigos que estavam comigo saíram falando que o filme era morno, não acontecia nada, era bem filmado mas não tinha muita coisa a dizer, “só os skatistas vão gostar”. Mais uma vez, leda nagle. Pois que, diante de toda a falação positiva que permeou o filme nos primeiros meses do ano, senti que precisava dar uma segunda chance a ele mesmo ainda tendo várias de suas imagens frescas na memória. O primeiro sinal de sua força potencial que fui descobrir só agora vem daí, dessa capacidade de se sustentar enquanto diagnóstico do universo de um jovem ao mesmo tempo em que reitera as experimentações visuais que confirmam Van Sant na linha de frente do atual cinema americano. Descobri um novo filme após rever Paranoid Park, e essa é uma das melhores sensações para uma pessoa que curte cinema, como eu. O processo de conhecimento, assim como nas relações interpessoais, acontece no filme de maneira compassada e gradual, e agora é nítido para mim o estranhamento inicial que as imagens causaram e como uma aproximação lenta, desprovida de qualquer intenção, fez com que eu absorvesse de maneira mais íntima a personalidade híbrida do filme. É que raramente me dou bem com estranhos à primeira vista. Só o tempo lapida as minhas relações, todas elas, e era disso que a obra de Van Sant precisava. O alcance de identificação que o filme possui, seja através da poesia das seqüências saturadas no parque, das entradas arrasadoras de Julieta e Nino Rota em momentos inesperados da narrativa, dos silêncios e da postura contida e indiferente do protagonista (que é a cara da Mallu Magalhães), tudo é tão vivo que a intensidade do diálogo foi progressivamente transcendendo da tela e acabou por me fisgar totalmente. Se por muito pouco não consegue superar Elefante, desde já figura entre os mais bonitos e representativos filmes que o cinema dos últimos anos cometeu. Certamente minhas pupilas ainda agradecerão com um brilho entusiasmado as muitas visitas que pretendo fazer ao parque de Van Sant.
Paranoid Park (Gus Van Sant, 2007)
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