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 "A valorização do cineasta americano James Gray por Cannes (seu Os Donos da Noite competiu ano passado) parece fechar-se num círculo dos mais redondos com a apresentação em competição de Two Lovers, crônica de amor delicada como pouca coisa, e que deverá se alojar na consciência de muitos quando ganhar o mundo ainda esse ano. O mais curioso nesse filme é o quanto ele é americano na sua essência, ao mesmo tempo em que revela-se peça tão rara na produção de lá, especialmente na mais bela força do filme: a naturalidade sentimental dos seus personagens
Típico 'estudo de personagem' que dialoga com outros na competição esse ano (o argentino Leonera, o belga Le Silence de Lorna), onde o filme não te entrega instruções completas já no início para entender quem ele é (cena de abertura é apenas uma informação, e não uma bula), Reginald revela-se aos poucos um personagem masculino notável, com visão diferenciada de mundo e uma melancolia amorosa que define quem ele é através da sua relação com mulheres. Porque é tão raro ver na vasta produção americana um homem de conduta normal, tentando lidar seja honesta, ou instintivamente, com seus problemas pouco, ou nada, espetaculares?"
*** "Gray monta um carrossel de afetos truncados e dolorosos (que, aliás, dá múltiplos significados ao título do filme – especialmente no original em que lovers pode se referir a homens e mulheres), de uma série de personagens que se atrai e repele sempre no nível da pele, da emoção mais imediata, impulsiva, necessária mesmo. No entanto, há bem mais no filme do que simplesmente um enorme ator, mesmo que isso não seja pouca coisa. Há, antes de tudo, todo um elenco impressionante e um diretor que, por mais que tenha dito na coletiva que seu grande prazer no cinema é o trabalho com os atores, faz do seu trabalho com a câmera e o som a prova de que um grande cinema, clássico ou não, se manifesta mesmo ao passar muito além das questões possíveis a serem discutidas a partir de temas ou comportamentos de personagens. O cinema se manifesta é na tela, com a força dos claros/escuros, das composições e tensões de quadro e com a montagem exemplar que James Gray demonstra a cada seqüência deste Two Lovers. Quem duvidar, que veja e reveja o diálogo entre Phoenix e Gwyneth Paltrow na porta do nightclub. Aula de cinema é pouco."
Diretamente do Festival de Cannes, Kleber Mendonça Filho e Eduardo Valente, respectivamente, numa primeira impressão sobre Two Lovers, novo filme do americano James Gray. Além da boa recepção por parte da crítica, há a grande notícia de que a Play Arte comprou os direitos de exibição da obra e pretende lançá-la nos cinemas nacionais ao final do segundo semestre. Em outras palavras, filme do ano à vista.
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