[12:55 AM]
O reflexo da pós-modernidade no âmbito das artes é mesmo engraçado. Em vários segmentos há uma ânsia maluca movida a lampejos desconstrutivos, a transgressão formal acaba sendo requisito básico para que a arte seja reconhecida como reflexo do seu tempo e muitas vezes a essência do objeto se perde nessa busca desenfreada pela crise. Não é o caso de Boarding Gate, último filme do Olivier Assayas, que alcança o equilíbrio dentro de sua proposta subversiva e é o exemplo ideal para tratar desse confronto no qual se encontra a narrativa moderna. Claramente dividido em duas partes, o filme avança progressivamente na construção de personagens que pulsam nos extremos, alternando fúria e calma, lirismo e violência, paixão e ódio. Há, portanto, uma preocupação do diretor em inserir no drama das personagens a problemática do conceito formal: a oscilação é recorrente e se desdobra à medida em que a necessidade do deslocamento bate na porta. Depois da morte, a fuga. E depois dela, o desaparecimento. A cena final é ótima, assim como a atuação selvagem de Asia Argento (a mesma delícia de sempre, agora com menos roupa e em perfeita sintonia com o andamento do filme) e o uso do foco com viés de anulação na fotografia de Yorick Lê Saux. Inexplicamente não foi comprado por nenhuma distribuidora aqui no Brasil, sendo lançado diretamente em devedê no mês próximo. Não se deixem enganar pelo péssimo título nacional, é um filme de primeira e provavelmente um dos grandes do ano. * * * A certeza mais imediata que me ocorre após assistir Os Monstros de Babaloo é a de que o cinema brasileiro nunca foi tão divertido sob a ótica marginal que vigorava no início dos anos 70. Elyseu Visconti fez um filme que poderia muito bem ter sido realizado na Belair de Sganzerla e Bressane, já que se aproxima em vários aspectos do cinema realizado pelos dois pontas-de-lança do movimento, como a referência à chanchada, a visão crítica do Brasil, o ritmo ágil e a caracterização exagerada dos personagens além da abordagem debochada dos diálogos. Helena Ignez, no auge da beleza, dispensa comentários, assim como a participação da Tieta Betty Faria e da hilária Zezé Macedo. Agora, onde está o famoso plano-seqüência em que Wilza Carla devora duas latas de goiabada e uma de queijo minas de uma só vez? Cheguei ao filme através desse detalhe insólito e não o encontrei, será que o Canal Brasil fez as vezes da censura que proibiu a exibição pública do filme nos idos da ditadura? Traição em Hong Kong (Boarding Gate, Olivier Assayas /2007) Os Monstros de Babaloo (Elyseu Visconti /1971)
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