Sei que ninguém se interessa por isso, que os jogos da Eurocopa estão cada dia mais emocionantes, que a final da NBA provocou em mim o desejo de ser norte-americano por pelo menos uma noite, que o disco do Kanye West é um barato (e a participação do cara do Coldplay é melhor que o último disco deles inteiro) e que provavelmente nenhum de vocês assistirá ao jogo do Brasil, mas quero só fazer um post-scriptum curto em relação ao que cerca o evento de hoje à noite, em Beagá.
A questão é: se o Dunga cair, quem será o novo capacho do Ricardo Teixeira no comando da Seleção? Aposto minhas fichas que tal acontecimento não se dará após o jogo de logo mais, no Mineirão, com a Gal Costa cantando o Hino Nacional e a bandeira da Argentina acoplada ao brasão minimalista do estado de Minas Gerais. Espero que ao menos um empate salve a Seleção e seus jogadores de protagonizarem um episódio vergonhoso na história do nosso futebol, que é o de perder durante as Eliminatórias jogando em casa e diante de sua própria torcida. Dunga cairá depois das Olimpíadas, e ingrata será a tarefa de seu sucessor, que, além da necessidade básica de montar um grupo consistente e apto para a disputa – coisa que o atual não é, nem de longe, alô Josué, vai pra casa, filho! -, terá de se desdobrar para que suas mudanças reaproximem pouco a pouco o torcedor brasileiro do time, o espectador dos jogos diante da televisão e o bom futebol de nossos gramados. Que venha Muricy, com seu estilo conservador e retranqueiro, suas entrevistas mal-humoradas (quanto custa um sorriso a um técnico do Brasil? Estamos MUITO precisados, mesmo) mas com uma eficiência em campo que não vemos desde que o Felipão foi embora. Muricy não faz o jogo que eu gosto de ver, mas pelo menos o cara é eficiente, entende de futebol, de tática, de treino, ao contrário do Dunga, marinheiro de primeira viagem. Não deixa de ser triste ver que nunca a camisa brasileira esteve tão desmoralizada, quase vazia de significado. Eu, que sempre quis ser lateral-esquerdo da Seleção graças ao pênalti que o Baggio perdeu na final de 94, usei o jogo contra o Paraguai como pretexto para tirar um dos melhores cochilos dos últimos tempos. E ainda agradeci ao Cabañas por isso.
Hoje, o armador Leandrinho anunciou que não se juntará à equipe nacional de basquete durante os jogos Pré-Olímpicos, alegando contusão. Anderson Varejão e Nenê também estão com os dois pés praticamente fora do time, o que reserva ao Brasil o consolo de uma presença singela de honra durante os jogos, sem chance efetiva de disputa. Outro caso de descaso, pura e simplesmente vontade de não jogar. Perdeu-se o tesão em vestir a camisa brasileira, em ser reconhecido como jogador do Brasil, em amedrontar os adversários apenas com o brilho da camisa. Os jogadores dão a impressão de estar cumprindo hora extra sem receber pagamento, como se estivessem prestando um favor a um país que só acompanham através do telejornal. A curto prazo, sei que nada será feito enquanto os bolsos dos dirigentes continuarem cheios e as relações com os patrocinadores não sofrerem um impacto de expressividade sísmica. As turnês da Seleção mundo afora continuarão, o descaso com o futebol que acontece do lado de cá do Atlântico (vide a final da Copa do Brasil) se manterá em voga, e cada vez mais os jogadores se voltarão contra os interesses esportivos de sua pátria, que hoje só é representada e reconhecida através de seus passaportes.
Quis escrever algo sobre isso hoje, mesmo sem revisar ou pensar muito a respeito, depois de assistir ao último playoff da NBA, com o Boston Celtics dando um show de bola em cima do Lakers do Black Mamba Obama Kobe Bryant e se sagrando campeão da temporada 2008. Deu gosto ver o Celtics jogar, com raça, vontade, pregando a camisa ao corpo e transformando a quadra num autêntico campo de batalha. A Liga de Basquete Americana é um exemplo de organização a ser espelhado mundo afora em todo e qualquer tipo de esporte, tanto no planejamento quanto na execução de suas temporadas. A manifestação me ocorreu ao lembrar que Oscar Schmidt, o grande cestinha de toda a história das Olimpíadas, recusou a oferta de jogar na maior liga de basquete do mundo para servir à Seleção de seu país. Até 1992, se não me engano, a NBA não permitia que seus jogadores fossem aos Jogos Olímpicos representando seus respectivos países, atitude que só veio a ser retificada a partir do ano citado. Oscar, então, abriu mão do prestígio em solo americano e foi jogar na Itália, a fim de vestir desimpedido a camisa brasileira nos quatros anos seguintes, durante as Olimpíadas. As cores verde e amarela pesavam sim, como sempre o fizeram, mas a recompensa valia qualquer sacrifício. Como já não se fazem mais jogadores como antigamente, vamos ver o que será que será de nós hoje à noite.
P.S.: Promessa de comentário curto dá nisso.
P.S. 2: A verdade é que o Kanye West colocou o Coldplay ladeira abaixo com uma música apenas (como se precisasse mais do que isso). Não duvido que seja a trilha sonora desse mês nas academias da cidade, mas, em noite de decisão na NBA e dos negões de três metros de altura vestindo verde e branco, nada mais legal e mais justo que isso: