28.9.08
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[1:22 AM]
Brigas, chuva, metrô, Mal dos Trópicos.
O sábado não podia ter começado de maneira mais inadequada, com momentos que não valem a pena comentar e um frio que me fez querer passar bem longe do chuveiro. Mas nada como uma caminhada para aliviar o pensamento, colocar as idéias em ordem e respirar um pouco o cheiro de chuva das ruas do Rio. O vagão do metrô lotado de flamenguistas indo ao Maracanã ver a vitória contra o Sport e eu já pensando que, mais uma vez, não conseguiria chegar para o filme antes das luzes se apagarem (coisa que detesto, só pra deixar claro). Não deu outra, entrei na sala poucos minutos após o início da projeção, suado e inquieto, mas bastou uma caminhada pelo mato selvagem para reter a transpiração e adentrar no universo aparentemente desconexo concebido por Apichatpong Weerasethakul. O que pude enxergar foi uma criação genuinamente carregada de elementos que se contrapunham a todo instante, alinhando uma lógica barroca a uma desconstrução da narrativa convencional, linear, aquele papo certinho de sempre, a fim de alcançar a ruptura das convenções através do choque provocado pelo desconhecido. É a oposição constante, entre corpo e alma, cidade e campo, barulho e silêncio; um mecanismo que converge na antítese que toma conta de grande parte do filme: o conflito entre homem e animal, que se dá de maneira ascética e corrobora a opção por uma sutil subversão conceitural ao não propor o enfrentamento, e sim a soma das partes. Ao final, ambos são um.
Tenho especial apreço por cineastas que se propõem a registrar o espaço geográfico - seja ele urbano ou rural - de modo a realçar toda a poesia que passa despercebida por nós no cotidiano. E Apichatpong transforma um passeio de moto pela cidade em um evento transformador de puro escapamento na vida de suas personagens, pavimentando a imersão total em um plano próprio, de torpor pessoal para dois corpos que se relacionam de maneira indefinida. Todas minhas expectativas se confirmaram, se excederam, me conduziram a um tipo de experiência pela qual ainda não há fórmula de descrição, bula, nada. É o cinema, puro e simplesmente. De onde surgiu aquele tigre na árvore, a fita do Clash, a árvore iluminada por vaga-lumes? O que esperam todos aqueles que atravessam a tela perdidos nas duas esferas pelas quais transitam isso a que nos referimos como corpo e alma? A ode à contemplação nunca foi arquitetada com traços tão singelos - como versos de um poema de Rimbaud, onde a cor e a beleza se encontram mais na disposição e no suprimento das palavras e menos no que elas de fato significam.
A noite terminou com A Fronteira da Alvorada, novo filme do Philippe Garrel, naquela que foi minha estréia no Festival do Rio. A primeira cena, com Louis Garrel andando pela rua, sugere uma conexão com Amantes Constantes, tanto pelo preto & branco marcante como pela idêntica elaboração visual do personagem e pela atmosfera decadente das ruas francesas. Mas as relações se limitam à reflexão sobre relacionamentos impossíveis e amores efêmeros, com poucas referências aos esquetes revolucionários que marcavam o compasso da obra anterior do cara. Não deixa de soar irônico que um filme cuja essência está no olhar sobre as relações interpessoais seja conduzido com tanta frieza, com um distanciamento que se arrasta pelas camas e parece esquecer que não só de olhares furtivos vivem os amantes. Começa bem, num jogo de corpos que a câmera observa sem pudores, mas depois de um certo momento parece que Garrel perde as rédeas de comando do filme que vinha encenando e passa a exlporar os desdobramentos que cercam o desfecho da união (numa culpa que se inicia com o desenvolvimento do roteiro e de modo inevitável se estende para a encenação), inserindo um elemento metafísico que se desloca por completo do tom inicialmente projetado, chegando a causar reações inesperadas na platéia. Muito mal elaborada a personagem da loirinha francesa, que, exercendo funcionamento primordial na engrenagem do filme, acaba por destoar do restante da narrativa com sua histeria comportamental e finda por comprometer todo o restante da história. Não me espanta que tenha sido mal recebido em Cannes este ano, está realmente num plano muito inferior ao real talento de Garrel.
Mas tenho certeza de que dormirei feliz, como uma múmia egípcia, madrugada adentro. Depois de presenciar uma árvore em plena efervescência luminosa, não há mesmo como ser diferente. E agora sei que o fato de eu sempre ter curtido o Sagat não é mera coincidência... Valeu, Tailândia.
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bicho
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25.9.08
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[2:46 PM]

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bicho
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22.9.08
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[8:28 PM]
 Assim como a interrogação que envolve a célebre questão sobre a fidelidade de Capitu no romance de Machado de Assis, diversas são as interpretações para os fatores que fazem com que Camille passe, de uma hora para outra, a substituir o amor que nutria pelo marido por um desprezo até então dado como oculto em sua dinâmica conjugal, no mais complexo olhar sobre o cinema já registrado em película. A minha visão não foge muito do tradicional: vejo como cena chave do filme aquela em que a personagem de Brigitte Bardot se encontra pela primeira vez com o produtor no Alfa Romeo e tem sua presença negociada através de um jogo de concessões entre o roteirista e o produtor, logo no início da história. O olhar fulminante de Brigitte, já dentro do carro, não dura mais do que dois segundos, mas é suficiente para exercer a inversão que marcará todo o tom antitético do filme. Sendo o cinema uma arte onde se pode manipular a imagem e praticar a desconstrução do nosso senso de realidade através de um conjunto de signos de linguagem própria, nada como engendrar um roteiro metalingüístico elaborado através de relações de poder, de pequenas políticas que delimitam territórios e instituem à cada qual a atuação dentro de seu respectivo meio. Todos os corpos em cena se chocam por causa do poder: o produtor e Fritz Lang (belíssima seqüência: na saída da cinemateca, após sessão de Viaggio in Italia, Lang dispara: "Posso viver muito bem sem um produtor.") encenam a tensão que se estende para o comportamento da secretária, tensão esta que marca também o relacionamento entre o produtor e o roteirista, entre este e o diretor, entre ambos e Camille e, em maior escala, entre Camille e seu marido, naquele que é o mote principal do filme: um olhar abrangente calcado numa teia de ambigüidades sob como se desenvolve e se desintegra um relacionamento dentro do mundo do cinema.
O Desprezo é um filme cuja fama precede qualquer opinião que se tenha a respeito de seus significados, talvez por isso eu tenha esperado tanto tempo para inseri-lo em meu mundo. Já havia visto vários outros do Godard desse período, mas sempre ignorava O Desprezo por achar que ainda não estava pronto para as questões que ele propunha. Resolvi deixar essa viadagem de lado no último fim-de-semana, e é óbvio que tal magnitude se confirma em toda sua extensão: não só é o registro de maior lucidez e complexidade sobre o cinema como também sobre qualquer ensaio de relacionamento que se tencione por aí. Godard dispõe de artifícios estilísticos para não soar óbvio em momento algum, envolvendo os personagens da narrativa numa nuvem de incompreensão que alcança ares de tragédia a partir de certo momento, onde, depois de desenrolado o novelo, o fluxo do que se perdeu se torna irreversível. Mas o que se perdeu? A tênue faixa que conecta a profissão ao sexo é também aquela que se posiciona entre o amor e o desprezo, e o trágico é inevitável quando o rompimento de tal linha se anuncia. Este é o filme obrigatório para todo casal que não entende os porquês do outro, um exemplo ideal onde a arte reproduz a vida de modo que nossos conceitos passam a ser repensados e redefinidos desde então, principalmente em relação ao cinema. E digo mais, já apelando: sou um ser humano muito melhor depois do contato com essa obra - nada como duas sessões seguidas em um fim-de-semana onde Brigitte Bardot reinou soberana sob minhas retinas em todos os cômodos da casa.
P.S.: A Débora viu o filme nas derradeiras sessões do Cine Paissandú, há uns dias, em seu cinemascope original, numa tela que dizem ser gigantesca - e não achou nada demais. Não sei se ela lê isso aqui, mas eu recomendo fortemente que reveja o filme em um dia melhor, de sol alaranjado, já que a revisão dos conceitos de vida (que nesses casos é o ideal a se fazer) demora demais e não é tão prazerosa quanto esses 100 minutos.
O Desprezo (Le Mépris, Jean-Luc Godard /1963)
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bicho
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21.9.08
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[11:58 PM]
A lista de filmes selecionados esse ano para o Festival do Rio conta com alguns títulos bem interessantes, mas tenho a impressão de que, assim como a escalação do Tim Festival 2008, possui o conjunto mais fraco dos últimos anos. Não sei se o ano passado me acostumou negativamente, pois só a oportunidade de conferir os últimos projetos de três grandes cineastas da contemporaneidade me fez relegar a grande maioria dos outros filmes ao segundo plano. Eram Lynch, Tarantino e Van Sant, e não só as expectativas se confirmaram com total precisão (três filmes, três obras-primas) como também fizeram com que o Festival valesse a pena só por esse pequeno pacote. Esse ano, embora tenhamos filmes indispensáveis na lista – o que dizer do entusiasmo em torno do mais recente filme do Philippe Garrel após Amantes Constantes? Será meu primeiro ingresso a comprar -, o Festival do Rio não estará entre as minhas prioridades durante os próximos dias, já que o CCBB aparece na área com a grande jogada do ano, a mostra Oriente Desconhecido, que traz três dos quatro filmes produzidos pelo cineasta tailandês Apichatpong Weerasethakul (crianças, não tentem reproduzir isso em casa), um dos nomes mais reverenciados do panorama asiático da atualidade. Eu, pra falar a verdade, já não agüento mais de curiosidade para conferir o que de tão magnético existe nos filmes do Apicha que anda deixando não só a “nova crítica” como também uma parcela enorme de cinéfilos maravilhada com o poder das imagens do cara. Será então a oportunidade perfeita, já que Mal dos Trópicos e Síndromes e Um Século (que passou no Festival do ano passado) serão exibidos em película, ao passo que Eternamente Sua chega em DVD, mas nem por isso deixa de ser menos do que imperdível. Além do tailandês, a mostra do CCBB ainda traz filmes de Hou Hsiao-hsien (Three Times) e Jia Zhang-ke, dois nomes que representam com muita propriedade o que de melhor vêm sendo produzido pela indústria cinematográfica oriental. Enfim, pros cariocas, fica a dica para aproveitar algo muito além do que o Festival do Rio propõe. A programação já está disponível. E quanto aos filmes que eu pretendo assistir durante os próximos dias, provavelmente serão esses daqui:
- Redacted, Brian De Palma - La Mujer Sin Cabeza, Lucrecia Martel - La Frontière de L'Aube, Philippe Garrel - Night and Day, Hong Sang-soo - Four Nights with Anna, Jerzy Skolimowski - En La Ciudad de Sylvia, José Luis Guerin - La leonera, Pablo Trapero - Liverpool, Lisandro Alonso - Feliz Natal, Selton Mello - Vicky Cristina Barcelona, Woody Allen - O Silêncio de Lorna, Luc e Jean-Pierre Dardenne
A ausência mais sentida (e que provavelmente foi fator fundamental para minha decepção com a lista de pré-selecionados que saiu uns dias atrás) foi a de Two Lovers, o novo filme do James Gray que estreou no último Festival de Cannes. Tô louco pra ver esse filme, bicho, não vejo a hora do 5 de dezembro chegar logo, contando com a esperança de que a Playarte honre seu compromisso de lançá-lo nos cinemas nacionais nesse dia. E toda essa listinha aí de cima, claro, será revisitada até onde minha grana permitir. De cabeça são os que lembro ter colocado como prioridades, só que provavelmente tentarei pegar mais alguma coisa perdida entre o batalhão de filmes do Festival. O segredo é ficar de olho nas recomendações do pessoal que entende do recado, blogs, revistas virtuais e fóruns do Orkut são mais do que úteis nessas horas. Será que dá pra pegar o Miyazaki? Qualquer coisa novidade vou avisando por aqui.
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bicho
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17.9.08
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[9:49 PM]
Os personagens de Linha de Passe refletem um Brasil em busca da afirmação, estão todos em movimento constante na busca por uma verdade que os caracterize no mundo em que vivem. Passam o filme todo andando, como que recortados entre duas instâncias distintas, esperando encontrar algo que nunca tiveram e que os diferenciará dos demais brasileiros. Se mostram nus na multidão, o grito engasga na garganta a cada nova frustração, a cada cruzamento que vai direto para a linha de fundo. O filme de Walter Salles e Daniela Thomas ainda se mostra sucinto em sua visão sobre o organismo periférico nacional, sem apelar para a poesia calculada e mecânica que carregava e extraía toda a naturalidade (e, por conseqüência, a beleza e o valor) de parcerias anteriores e até mesmo dos projetos pessoais da dupla. Dessa vez parece que ouviram as palavras da minha mãe, que sempre quando vai ao açougue comprar presunto diz ao cortador: “Pode cortar bem fininho, se quebrar não tem problema”. Ela nunca gostou de comer pão com bife. E Linha de Passe mostra pela primeira vez uma preocupação sensata em não deixar espaços, em sufocar o personagem com a proximidade de uma câmera que investiga cada cômodo daquela triste casa mas que não dá espaço para o choro, a lamentação, a desilusão. O corte é seco, acontece antes, impede que a harmonia tão própria daquela família seja espedaçada em função de um desajuste irrefreável causado pela situação econômica. O personagem de Vinicius de Oliveira chora, mas chora no quarto, trancado, sem que o vejamos. Essa objetividade com que o corte é realizado faz com que Linha de Passe cresça na memória, e talvez por isso, só agora, quase duas semanas depois, é que pude convergir algumas idéias que eu tinha a respeito dessas colocações. Essa força surge através de uma economia de espaços que o cinema de Walter Salles e Daniela Thomas não conhecia, já que em muitos de seus filmes o plano longo e aberto foi o quadro ideal para se chegar a resoluções de caráter pictórico, para emocionar o espectador através de uma contemplação abusiva que enganava e convencia pelo cansaço. Não passava de perfume barato. Este se mostra um filme de difícil acesso, polido e distante, que não se preocupa em estabelecer um diálogo efusivo com o espectador. São os silêncios e a incomunicabilidade que marcam as dificuldades da família, de quatro pólos distintos que se atraem através da potência centrípeta de uma mãe que se duplica a cada filho. Não vemos o gol, "olha para a minha cara", anda! O desfecho, belíssimo, eleva essa síntese de corte ao seu máximo, atingindo momentos de uma beleza que raras vezes vimos no cinema nacional recente. É o Brasil se reafirmando, se mostrando capaz de andar com as próprias pernas, capaz de guiar um carro sozinho, de marcar o gol decisivo, de parir o próprio filho.
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bicho
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14.9.08
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[8:38 PM]
"Rock and Roll" The Velvet Underground
Jenny said when she was just five years old There was nothin' happenin' at all Every time she puts on a radio There was nothin' goin' down at all, Not at all Then one fine mornin' she puts on a New York station You know, she don't believe what she heard at all She started shakin' to that fine fine music You know her life was saved by rock 'n' roll Despite all the amputations you know you could just go out And dance to the rock 'n' roll station
It was alright It was allright Hey baby You know it was allright It was allright
Jenny said when she was just bout five years old You know my parents are gonna be the death of us all Two TV sets and two Cadillac cars Well you know it ain't gonna help me at all Not just a little tiny bit Then one fine mornin' she turns on a New York station She doesn't believe what she hears at all Ooh, She started dancin' to that fine fine music You know her life is saved by rock 'n' roll, Yeah, rock n' roll Despite all the computations You could just dance to that rock 'n' roll station
And baby it was allright And it was alright Hey it was allright It was allright Hey here she comes now! Jump! Jump!
Like Jenny said when she was just bout' five years old Hey you know there's nothin' happenin' at all Not at all Every time I put on the radio, You know there's nothin' goin' down at all, Not at allBut one fine mornin' she hears a New York station She doesn't believe what she heard at all Hey, not at all She started dancin' to that fine fine music You know her life was saved by rock 'n' roll Yeah rock 'n' roll Ooh, despite all the computations You know you could just dance to the rock 'n' roll station
Allright, allright And it was allright Oh, you listen to me now And it was allright C'mon now Little better Little bit It was allright It was allright And it was allright, allright It's allright, allright...
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bicho
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4.9.08
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[5:29 PM]
 A boa da vez é para os cardíacos-suicidas: ainda não tive notícia de outro filme que descarregue tantas doses de adrenalina seguidas (homeopatia é para os fracos) quanto O Nevoeiro, sem dúvidas a melhor coisa que o Frank Darabont fez depois de fechar um livro de Stephen King e esquecê-lo na estante. A embalagem é mesmo a de um filme menor, de baixo orçamento, mas o que ele faz com as possibilidades de alcance do roteiro chega a impressionar. Muito além de um estudo comportamental (e aí encontram-se as semelhanças com O Enigma do Outro Mundo, do Carpenter) de desenlaces psicológicos, o filme sustenta uma atmosfera de horror enquanto abre espaço e se joga sem medo no buraco negro das metáforas, exigindo um suplemento por parte do espectador que só a visão crítica de alguns será capaz de assimilar. Há monstros, tentáculos, insetos voadores e outros vários atropelos à razão, mas o que interessa mesmo na carpintaria de Darabont são os personagens - o homem e sua relação com o próximo, com Deus, com o Estado e, principalmente, com o desconhecido. A religiosa interpretada por Marcia Gay Harden chega a causar revolta, tamanha a entrega da atriz em sua caracterização de uma fundamentalista extrema - na sessão soaram até palmas no desfecho de sua personagem. Pra quem tem preguiça de rapel ou bugge-jump sem corda (estilo menina-Nardoni), O Nevoeiro é tão bom que chega a ser um alívio de consciência para nós, sedentários de plantão.
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E Sympathy for the Devil, revisto ontem, numa cópia cristalina que até dá a impressão de estarmos ali, dentro do estúdio, recebendo uma baforada de cigarro do Keith Richards enquanto o Godard lança suas idéias sobre o Maio de 68? São poucos os filmes que com o passar do tempo assumem ares de cápsula do tempo ao mesmo tempo em que se mostram tão joviais e enérgicos a cada nova visita que nos fazem. É certo que o passar dos anos e os rumos tomados pela História fizeram com que algumas idéias perdessem sua credibilidade passando assim a soarem obsoletas em sua essência – como a admiração pela política de Mao-Tse Tung -, mas, só de se imaginar que tais ideais foram lançados no olho do furacão de 1968 as proporções da coisa já tomam outro rumo. É, também, um filme que sempre me instiga a cada nova revisão (essa foi a primeira vez no cinema), por assimilar com uma dinâmica rock’n’roll o que se passava na cabeça de um cara que vivenciou e provocou uma turbulência no cenário cultural sessentista enquanto respirava cinema, lia quadrinhos e ouvia o som das guitarras dos Stones. Em processo de desintegração emocional devido às circunstâncias em que se encontrava o Brian Jones, drogado, traído e rebaixado à coadjuvante, a banda aparece no estúdio em imagens que são puro deleite, em pleno processo de criação e numa dinâmica até então desconhecida do grande público. Provavelmente é o único registro visual em estúdio da fase do Brian Jones, e com isso há o acréscimo sempre bem-vindo (mesmo que de costas e completamente vestido) da gloriosa Anita Pallenberg, que a essa altura já era o quinto membro da banda. Não duvido nada que Godard e os Stones tenham firmado seu pacto com o demônio durante as gravações deste filme – única explicação para a eterna jovialidade dos músicos britânicos e também do cinema do francês.
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é isso aí,
bicho
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