Agora não restam dúvidas: David Fincher foi mordido por algum mosquito tropical de veneno entorpecente enquanto filmava Zodíaco, em 2006. Só pode. Essa sequência aí em cima justifica toda a onda de exaltação que cerca o filme: a câmera estática e a construção espacial preenchida por uma agressividade progressiva, latente, contida em uma cápsula de tensão que, quando desperta, leva o filme às alturas. É onde o cara trabalha as transformações temporais de um cosmo em constante desarmonia, alterando o foco expressivo e pincelando as dualidades que acompanham a recepção do tempo no homem de maneira muito mais eficaz do que nesse O Curioso Caso de Benjamim Button. Que não chega a ser de todo ruim, mas é passivo de um modo que Zodíaco não era e acaba soando plástico e fugaz por conta disso. Antes, Fincher foi preciso: extraiu do roteiro qualquer gordura que prejudicasse a atmosfera áspera e concisa imposta à narrativa (imagine o trabalho braçal de montagem desse filme), concebendo sequências onde a beleza estava no disfarce de uma estética de alta complexidade em nome do discurso direto e da imagem sintética. Em se tratando de toda essa audácia, os excessos de Benjamin Button soam como um passo em falso de um cineasta que ainda não encontrou um caminho definido, optando por trilhar rumos inusitados a fim de descobrir os percalços localizados entre o início e o fim de cada história. Não faz mal. Para os dias de fúria, sempre teremos Zodíaco.