[2:07 PM]

Certamente o número de textos quilométricos que vão pipocar por aí descrevendo e remontando graficamente as primeiras apresentações do Radiohead no Brasil será difícil de medir. Cada um maior que o outro, com palavras bonitas e uma dose de subjetividade que não raro vai apelar para predicados dos mais chinfrins e batidos, já avisto epítetos do tipo "o grande show do ano" ou "o show da década" pintando por aí. Classificações fáceis me entediam. O remédio contra isso atende pelo nome de síntese, e, já que estamos aqui, não tenho por que mentir: foi realmente de arrepiar. Não me lembro de uma apresentação que conciliasse de maneira tão harmoniosa um aparato visual formado por luminosas e explosivas estalactites de vidro com a intensidade sonora do Radiohead, uma simbiose tão potente que até agora mal consegui processar o que vi. Se essa é a trilha sonora de um mundo paranóico e cada vez mais refém de uma tecnologia opressiva, o show de ontem serviu para mostrar que não estamos definitivamente perdidos: a poesia resiste em meio ao caos.
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