[1:22 AM]
Comprei um caderno, abri um Twitter e continuo com o blog. Mas e a preguiça de escrever? Articulo ideias e mais ideias no ônibus, indo para o trabalho, mas quando tento reproduzi-las no papel a terra treme. Meu negócio é com imagem mesmo, não tem jeito...
Li duas novelinhas do Joseph Conrad essa semana: Juventude e O Coração das Trevas. O Coppola fez uma leitura bastante fiel do livro, mesmo alterando algumas passagens e inserindo outras muito bem sacadas (toda a sequência do surfe com o Robert Duvall, por exemplo). Manteve, no entanto, o clima de paranóia e tensão que perpassa a narrativa, conservando a excitação causada pelo contato com o desconhecido e intensificando a crise de identidade dos personagens, colocando a sanidade mental à prova diante do primitivismo indiferente da natureza. A cena em que o Martin Sheen emerge das águas, já no desfecho de Apocalypse Now, mostra o domínio cênico do Coppola e como ele soube, a partir do texto do Conrad, elevar uma passagem pálida e insignificante do livro a uma sofisticada e emblemática sequência de suspense.
Outro que bebeu na fonte do escritor polonês foi Herzog. Aguirre vem daí, dessas trevas. Achei estranho o fato de nunca ter lido nada a respeito desse paralelo, cuja gênese é bastante similar. O que muda, no caso, é o ponto de vista. Se no filme do Coppola eles vão até Kurtz, Herzog antecipa sua ação e encena o momento em que Kurtz descobriu as trevas. Ou se descobriu através delas, vai saber.
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