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O cara era foda. Um ícone, com todas as idiossincrasias próprias do termo: excêntrico, talentoso, controverso (black or white?), polemista, carismático, daqueles poucos sujeitos com capacidade de arrastar os olhos de uma multidão feito ímãs por onde passava, para o bem ou para o mal. Mesmo não sendo nascido quando sua carreira conhecia o apogeu, sempre curti o som de Michael Jackson, a pegada dançante, o suingue e a força com que suas músicas potencializavam a energia de qualquer pista de dança que se preze. Pelo menos enquanto era negão. Os discos de sua época de ouro (que vai do período Motown até o Bad) ainda rolam direto nas caixas daqui de casa, e todo mundo dança.
Não me recordo com muita precisão (quando exageram no meu copo de vodka desconheço o significado do termo), mas, segundo a Isadora, dancei um moonwalk alucinado no palco da Casa Rosa, ano passado, ao som de Billie Jean. Curto demais. Mesmo a galera que patrulha as atitudes do Michael, se armando de pedras e tomates quando seu nome surge em alguma conversa de boteco, arrisca alguns passos e balança o esqueleto quando um DJ tira Rock With You da manga, ressuscitando cadáveres e reavivando corpos inertes. De vícios estamos cheios, quiçá alagados, portanto não irei perder meu tempo discutindo e julgando as debilidades do Michael. Que era o cara. Ou pelo menos foi, soberano, durante muito tempo.
Morre Michael Jackson, o homem que levou a música pop ao seu mais alto grau de excelência, e fica seu legado, enorme, inestimável, que vai da revolução da dança coreografada e do videoclipe aos diretos sobre a obra dos Beatles. O dia de hoje legitimou o fim de uma era para a música e para a cultura pop. Mais uma parte da história se conclui, enterrando num passo para trás o tempo em que se faziam ídolos de proporções globais. Gostaria de acordar amanhã e me ver vítima do mais ousado golpe publicitário do século XXI, onde Michael ressurgiria mostrando seu poder e sua influência sobre o show business alegando que tal ato foi um misto de paranóia e estratégia para promover sua próxima turnê. Orson Welles aplaudiria de pé, charuto aprumado e copo duplo de uísque, diretamente das catacumbas do Inferno em que se hospeda. Michael saiu de cena com a mesma idade da ainda jovem Motown, gravadora que o lançou há quatro décadas, deixando como última obra a lenda que construiu sobre si. Rockin’ Robin, the beat goes on! I Want You Back continuará rolando madrugadas afora, sempre quente...
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