[3:30 AM]
- Você realmente roubou aquela coisa? Por quê?
- Eu precisava sair do chão.
A vida é cheia de som e fúria em Zabriskie Point, onde não há terno nem sobrenome e Antonioni pode ser visto baratinado, distribuindo zooms desnorteantes, ensandecidos, com o intuito de capturar o espírito de uma América igualmente atribulada. E aqui, por mais que apontem defeitos de lógica e insistam em cobrar coerência, é o espírito que me fascina: poucas vezes o cinema conseguiu ser tão rock’n’roll. As conseqüências da envergadura política da obra fazem com que se mantenha acesa a chama da transgressão, do combate, da explosão que existe dentro de cada jovem. É de se admirar que Antonioni tenha feito o filme aos 58 anos de idade, abandonando qualquer vestígio de senilidade ou conservadorismo que geralmente acomete pessoas com essa bagagem etária. Acho quase impossível falar de Zabriskie Point sem soar hiperbólico ou repetitivo, mas cada vez que o vejo (essa é a terceira - primeira com o áudio original em inglês e imagem cristalina), é como se a potência das imagens e do discurso acionasse uma descarga de energia e liberdade que me deixa com a cabeça fervendo, como se cada molécula do meu corpo estivesse numa dança descontrolada e feroz. O lugar representa o ponto geográfico mais baixo dos Estados Unidos da América, talvez por isso seja preciso alçar vôos estratosféricos, fugir de uma realidade sufocante e rarefeita para encontrar o sexo nas areias do deserto. A liberdade existe, ao longe, como uma velha lembrança, envolta por uma nuvem de poeira, bastante desgastada pela burocracia e por outras opressões sociais. O mundo é um caos, mas Antonioni nos convida a explodi-lo. E quando um poeta resolve fazer barulho, é obrigação do universo se calar para ouvi-lo.
|