É Proibido Fumar é o elogio da simplicidade, uma conversa de nostalgia cuja trilha sonora são os estalidos que saem do toca-discos de um romance desajeitado, desencanado de grandes e pretensas decisões. Alto astral, é, acima de tudo, um filme que acredita nas pessoas. O ponto mais alto de um dos pontos mais altos da carreira de Woody Allen se dá na seqüência final de Manhattan: “Você precisa ter fé nas pessoas”. E Anna Muylaert tem. Seu filme comprova essa visão otimista. Apesar da falta de dinheiro, de perspectiva, de amores e de um sofá mais bonito para a sala, a gente vai levando.
A segunda parte de Durval Discos (ou o lado B daquele velho LP) se entregava sem medo a uma aventura escapista, encorajada pelo desejo de desbravar um perímetro inabitado e por desafiar certas convenções que amargavam grande parte do que víamos nas telas brasileiras. Já anunciava a coragem da diretora em se jogar junto com sua adorável comédia de costumes num abismo escuro cujo paradeiro final era desconhecido. Ninguém sabia onde aquilo ia dar.
E acabou dando em É Proibido Fumar, a evolução e o amadurecimento de uma carpintaria que preza pelo disfarce do requinte, contribuição das mais valiosas em um cenário que valoriza o excesso e descarta as possibilidades de subversão através da sutileza. O carinho com que Muylaert constrói o espaço para depois entregá-lo a personagens cotidianos, sem arroubos de extravagância ou frases proféticas de sindicalismo é o que move seu filme, dá a ele o coração, o cérebro e o cimento necessários para construir a ponte entre o autor e o público.
Para além de recuperar a fé nas pessoas,
É Proibido Fumar faz com que voltemos a acreditar nas possibilidades de um cinema nacional de qualidade.