Os motivos que levam um escritor a cair de qualidade ao longo da vida podem ser vários: o natural peso da idade, o confronto com uma realidade que ele não mais domina, o embaralhamento mental de ideias fermentadas durante anos, a decadência do corpo, da sensibilidade, a falta de um contrato decente, a carência de mulheres gostosas na cama e até mesmo a noção de que ninguém mais está afim de ler seus livros.
Ao final de O Seminarista, último livro do meu conterrâneo Rubem Fonseca, começo a pensar que alguns dos males acima acorrentaram as veias criativas do velho fescenino e estão jogando uma pá de cal em seu raivoso e lacônico estilo de escrever. A despeito da temática violenta acerca do cotidiano de um matador profissional que luta para largar a profissão, é um livro quase infantil no modo de lidar com o desenvolvimento do enredo e com os mecanismos que utiliza em sua narrativa.
Toda a concisão urgente que se vê nos contos de Feliz Ano Novo ou Lúcia McCartney foi substituída por uma pressa que pretende se metamorfosear em elipse, dotando o livro de um ritmo invejável (li em menos de um dia), mas prejudicando o aprimoramento descritivo que seus romances outrora continham. Sem contar que o velho força a barra além dos limites do bom senso em algumas sequências: nomear dois personagens de Jackson e Maicon é de uma gratuidade pueril, assim como investir pesadamente nas infindáveis citações latinas que permeiam o livro.
Agosto e A Grande Arte continuam sendo meus romances preferidos deste que é um dos mais expressivos contistas brasileiros. Como estou empacado no meio da estrada de um calhamaço com quase 1000 páginas, resolvi me refrescar cedendo à infidelidade de respirar um estilo diferente, rápido e seco como um tiro de Glock. Agora, tratei de fazer as pazes e estou de volta à monogamia, enquanto O Seminarista está e continuará por muito tempo acumulando poeira na minha estante.