qualquer coisa
num verso intitulado mal secreto
 

9.2.10


[11:19 AM]


O compromisso de Invictus com a veracidade dos fatos maquia a realidade de tal forma que nem o impacto inicial ao final do filme é capaz de sustentá-lo em alta após alguns dias de convívio. Clint Eastwood, e digo isso com muita cautela, parece atropelar nosso senso histórico ao compor um painel extremamente positivo e simplista da África do Sul pós-apartheid, o que não só não corresponde à complexidade das relações naquele país como a todo momento parece escapar das hábeis mãos do cineasta e seu desejo de lançar um olhar íntimo sobre Mandela e sua tentativa de desfragmentação nacional. Por mais que haja subjetividade - ela existe e está presente nos momentos de maior força de Invictus - o que se vê em sequências como a dos policiais com o garotinho e da patroa branca com a empregada negra soa como ilusão de uma realidade propositalmente entortada, movida por um posicionamento político equivocado e, até certo ponto, inadimplente. Clint não é professor de História, é sim um tremendo cineasta e um encenador de proposições humanas sem par no cenário americano atual. Mas quando toma emprestado um tema histórico para desenvolver questões sobre inspiração, renovação espiritual e superação (e o ponto de convergência com Gran Torino é imenso ao trazer a mudança de pensamento para primeiro plano) está expondo suas ações deliberadas em favor de uma posição diante daquele tema.
E a África que eu conheço, mesmo de maneira incipiente e terceirizada, não é aquela ali, harmônica e pacífica. Concordo que a alegria que a população experimenta é fugaz, anestesiada pela recente conquista da Copa do Mundo de Rugby, podendo ser analisada como o primeiro passo, a motivação inicial para um painel de reinvenção nacional através do coletivo espírito esportivo. Mas o filme se encerra nesse ponto, sem elucidar por completo essa questão (tudo terminou ali mesmo? Não houve nenhum efeito colateral? As coisas realmente mudaram ou foi apenas um suspiro de alívio em meio ao caos?) e permitindo a interferência do espectador sobre a interpretação daqueles episódios. E nós sabemos que não é por aí, as coisas são muito mais pesadas - mesmo no estado de euforia momentânea - do que a estabilidade civil que se vê naquele cenário. Se formos parar para pensar analiticamente as propostas de
Invictus, veremos que é um filme muito bonito e emocionante, mas bastante problemático em suas questões.

P.S.: E Mandela, o que terá achado?





 


é isso aí, bicho

 

 


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