[12:53 AM]
Um prólogo para envelhecer todos os outros. Isto é Ernst Theodor Amadeus Hoffmann:"Será que me é permitido, benevolente leitor, perguntar-lhe se em sua vida não houve momentos, até dias ou semanas, nos quais o rame-rame do cotidiano o desmoralizasse completamente, nos quais tudo o que parecia dar um valor e um sentido à sua existência e a seu pensamento lhe soasse ridículo e fútil? Você mesmo não sabia então o que fazer nem a quem recorrer; o seu coração excitava-se com o obscuro pressentimento de que em algum lugar e em algum instante seria satisfeito um desejo imenso, superior a qualquer prazer terreno, desejo que o espírito, como uma criança dócil e tímida, nem mesmo ousava formular; nessa nostalgia por algo desconhecido e sempre presente como um sonho vaporoso, cuja transparência escapasse a seu doloroso olhar, você permanecia indiferente a tudo o que o cercava. Com os olhos esgazeados, você vagava como um amante sem esperanças, e toda a desordenada agitação humana a seu redor não lhe despertava dor nem alegria, como se você não pertencesse mais a este mundo. Se você, prezado leitor, alguma vez foi invadido por essa sensação, então compreende por experiência própria o estado em que se encontrava o estudante Anselmo."O Vaso de Ouro, 1812.
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