[6:48 PM]
Um dos problemas da representação do outro no cinema brasileiro contemporâneo está na preparação de elenco. O que faz o preparador? Adequa um fenótipo a um corpo estranho, domestica o inimigo. O outro para o preparador é aquele cuja construção se dá a partir do que se vê, e não do que se é. O outro, portanto, é o produto de um olhar. A ilusão se duplica (e se estrumbica): se a representação objetiva não corresponde completamente à realidade, a composição do outro é uma verdade inventada, forjada através dos desejos de um sujeito determinado.
Ontem, no CCBB, Luís Alberto Rocha Melo disse que a representação por si só é insuficiente para a composição do retrato do outro, e que uma interferência formal seria um caminho menos óbvio para encontrá-lo. Para mim, há uma necessidade culpada de alguns dos filmes mais representativos dessa década em conceder espaço para o outro, procurando inseri-lo objetivamente dentro do campo social através do que se pensa ser uma compreensão de sua subjetividade (Cidade de Deus, Carandiru, 2 Filhos de Francisco). Mas encontrar o outro é necessariamente perdê-lo, e quanto mais próximo esse modelo se encontra de uma replicação cultural mais distante fica a essência de sua natureza. Em boas palavras: só a abolição da preparação de elenco salva o cinema brasileiro.
|