Syd Barrett - The Madcap Laughs (1970)
Poesia dissonante. Estreando em carreira solo, nu com sua música, Syd desafina enquanto uiva os lamentos de quem não quer ser esquecido. Sem firulas, o melhor álbum do Pink Floyd.
Tim Buckley - Greetings from L.A. (1972)
Los Angeles endemoninhada, hedonista, bêbada, num disco com pegada rock e acento soul. Ideal para longas viagens e rodovias que não terminam.
Curtis Mayfield - There's no Place Like America Today (1973)
Difícil escolher uma única obra do cara em meio a tantas maravilhas, mas esta se sobressai em função de duas palavras: "Billy Jack". E ainda há "So in Love", uma das músicas mais inspiradas sobre momentos de inspiração.
Neil Young - On the Beach (1974)
O lado A é para manhãs ensolaradas, enquanto o B emoldura um entardecer frio, de ventos cortantes, sozinho na beira do mar. Neil Young sempre me seduziu mais pela fragilidade do que pela fúria, e por isso este é meu álbum preferido de sua extensa discografia.
Lou Reed - Coney Island Baby (1976)
Celebração da lisergia com uma sucessão de canções memoráveis. "A Gift", meu hino.
João Gilberto – João Gilberto (1973)
De todos os discos do João, este é o que emula com a intimidade de quem lá nasceu a brisa que só se sente na Bahia. Um autêntico diamante lapidado, com uma canção de fazer chorar: “É Preciso Perdoar”.
Bowery Electric – Beat (1996)
Minimalismo, atmosfera, lirismo - como se o My Bloody Valentine se desnudasse de suas guitarras e rumasse para outros nortes em busca de novos tons e texturas. Todos os discos aqui listados funcionam muito bem na cama (em qualquer ocasião), mas este, por se aproximar de uma ambiência própria ao trip-hop, é ultra indicado para momentos em duo – em especial “Empty Words”, tão boa quanto som de chuva.
Hank Mobley - Soul Station (1960)
Um colosso do jazz. O saxofone além de Coltrane, com um quarteto que certamente está entre os melhores de toda a história da música popular. O piano de Wynton Kelly descreve os suaves movimentos de uma nuvem, enquanto Art Blakey pavimenta o caminho para que o sax de Mobley mostre toda a musicalidade do seu fraseado. “Dig Dis” e ponto final.
Nelson Cavaquinho – Nelson Cavaquinho (1973)
Embora o tom de várias canções seja amargo e com um bocado de melancolia, como todo samba que se preze, este é o melhor disco para as manhãs de sábado. E, se o mais recomendável remédio para a tristeza é a música, não há como resistir aos encantos de simplicidade com que o canto de Nelson pede consolo. Aqui, o que importa não são as escalas matemáticas, mas o coração.
Esther Phillips - Alone Again (Naturally) (1972)
Uma voz espetacular num momento de elevação suprema. Poucas cantoras dominam tanto a modulação vocal quanto Esther, e aqui há uma interação tão potente entre canto e instrumental que sentiu-se um tremor do lado de fora do castelo onde, à época, reinava soberana Aretha Franklin. Esther não chega a desbancá-la, mas ameaça. E “Let’s Move and Groove” é o atestado dessa força arrasadora. No mesmo ano ela ainda gravaria outro discaço, com uma cover de Gil Scott-Heron que está entre as canções escolhidas a dedo para embalar meu funeral.
The Rolling Stones - Exile on Main St. (1972)
O monolito de
2001, indecifrável, inevitável, irresistível. Os quatro lados que definem toda a história do rock’n’roll. Meu disco de cabeceira.
Jorge Ben – Solta o Pavão (1975)
Com várias músicas gestadas no mesmo ventre de “
A Tábua de Esmeralda”, o pavão de Jorge, mesmo com toda sua exuberância e riqueza musical, acabou negligenciado em função do retumbante e merecido sucesso de seu irmão mais velho. O que é uma injustiça das brabas, já que o verdadeiro último disco onde o Babulina toca violão é um apanhado de canções que trafegam com fluente naturalidade na interseção entre o samba e o rock, onde o violão de Jorge aparece solto, inventivo, musical em todas as suas vertentes, verdadeira potência criadora de um estilo que nunca conseguiu ser imitado. E só mesmo a saudade, esse sentimento tão miseravelmente nosso, capaz de inspirar uma canção tão linda como esta: