[1:28 AM]
Êxtase completo a sequência de perseguição e tiroteio no parque de diversões em Casa de Bambu, Samuel Fuller num cinemascope extraordinário em 1955, no Japão. Quando eu fizer um filme tudo o que quero é enquadrar como o homem. Olha o equilíbrio dessa composição, que coisa maravilhosa (o homem no centro do mundo - do quadro). Tóquio, Yokohama, cores, nomes, formas, máscaras, máfia, uma vibração pulsante dos corpos dentro do plano, deslocando a ação de uma ponta a outra e arrastando meu olhar feito um ímã, sem perder a ternura jamais. O filme começa com uma trama policial que se desenvolve progressivamente até mergulhar na relação entre um espião americano e uma mulher japonesa, um encontro de culturas que desfaz a noção de choque e alivia temporariamente as tensões em jogo. É admirável a capacidade de interromper um fluxo de força viril e abrir espaço para que dois personagens de mundos opostos se descubram através de um cotidiano palpável, de pequenos gestos, como o simples ato de dividir o mesmo café da manhã cada um à sua maneira (ela, no chão; ele, na banheira). E isso para um ex-soldado de guerra! Para Fuller, a violência é um enunciado que se manifesta por meio de vários discursos: de morte, de paixões, de medo, de instinto, de vingança. A violência do assassino é a mesma daquele que ama desesperadamente. Não há como controlar algo que é puro instinto, plena desrazão. Daí o espaço concedido tanto para uma perseguição inflamável como a do parque como para momentos de cumplicidade entre amantes, como o café da manhã. O ritmo incessante, com cortes bruscos, alguns até dentro da mesma cena, mantém as retinas intactas, mas o recado já foi dado: a violência é uma condenação da qual ninguém escapa, e sem ela – pelo menos nos filmes de Fuller – seria impossível viver.
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